quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Estamos Muito Bem Representados

"É verdade que existem vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e merecem estar bem representados."
Hubert Horatio Humphrey, Jr. (Wallace, Dakota do Sul, 27 de maio de 1911 — Waverly, Minnesota, 13 de janeiro de 1978) foi o 38º Vice-presidente dos Estados Unidos, durante o mandato do Presidente Lyndon B. Johnson.
 
Reiteradamente tenho publicado que estranho a reação das pessoas em relação a forma como encaram o comportamento de nossos políticos, principalmente quando comparamos a intenção proposta eleitoralmente e os efetivos resultados alcançados pela sua atuação. Vejo gente comentando com espanto e até certa indignação, ao mesmo tempo que refletem determinado conformismo por não acreditarem que algo ou alguém fará a mudança. Mas também entendo perfeitamente que estamos muito bem representados, pois entendo que eles(os políticos brasileiros) se comportam exatamente como a maioria de nossa população se comportaria. Caso contrário, a verdadeira democracia já os teria defenestrado do cenário político.
Vamos fazer uma reflexão. De acordo com dados disponíveis e publicados sobre manifestações públicas temos:
  • Quatro milhões de pessoas participaram da 15ª edição da Parada do orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transsexuais e Transgêneros), chamada popularmente de Parada Gay em 2011.
  • A 19ª edição da Marcha de Jesus em São Paulo reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas.
  • No Big Brother Brasil 8 na final entre Rafinha (50.15) x Gyselle(49.85) houve 75 milhões e 300 mil votos.
  • E para terminar...No último feriado do dia 7 setembro (Independência do Brasil) em São Paulo, houve dois atos na Avenida Paulista, um pela manhã e outro à tarde, segundo matéria da Folha Online: "Cerca de 700 pessoas participaram na tarde desta quarta-feira (7) da segunda passeata do dia contra a corrupção na avenida Paulista, em São Paulo. Como no ato da manhã, que reuniu 500 pessoas..."
Não quero de forma alguma minimizar a importância e relevância de qualquer uma das manifestações acima citadas. Mas não podemos nos furtar de fazer uma clara reflexão sobre as preferências de nosso povo de forma objetiva.
Sei que pode até ofender algumas pessoas, o que não é minha intenção. Mas se novamente lembrarmos que são nossas ações que refletem as verdadeiras intenções, pois as ações efetivamente realizam transformações. E estas ações são frutos de nossas escolhas refletidas ou irrefletidas, mas antes de tudo são escolhas. E estas escolhas são verdadeiramente influenciadas pelo que carregamos no nosso íntimo, o que pode ser revelado ou omitido. E muitas vezes o que é revelado pode contrariar o que realmente pensamos, o que caracteriza a mentira. E quem não vive como pensa acaba pensando como vive.
Considerando que São Paulo tem em torno de 7,1 milhões de eleitores, as manifestações contra a corrupção na Avenida Paulista contaram com a representatividade de 0,0169% (somados os manifestantes da manhã e da tarde). Então a que conclusão chegamos pela análise dos fatos e dados? Que para o nosso povo, indicar alguém para o paredão do programa Big Brother é mais importante que ajudar a minimizar ou eliminar o preconceito homofóbico que é mais importante do que expressar publicamente sua fé (em Jesus no caso) e que a corrupção tem importância pífia ou não tem importância nenhuma. Este é o exemplo do resultado das ações praticadas pela nossa população. Que deve ser coerente com os princípios e critérios que norteiam suas vidas. Apenas temos que aceitar e compreender e não se ofender.
Hoje em dia discute-se novamente o retorno de um extinto imposto (CPMF com outra sigla, vulgarmente apelidado de imposto do cheque) para aumentar o custo de vida dos brasileiros, com a complacência da maioria dos membros do governo e do congresso nacional. Some-se que no dia 13 de setembro de 2011 (às 11:40) a arrecadação de impostos no Brasil alcançou a marca de 1 Trilhão de reais, 35 dias mais cedo que no ano anterior. Sendo o PIB brasileiro da ordem de 3,6 a 4 Trilhões de reais, podemos afirmar que 1/3 do PIB é a fatia do poder público. E 1/3 do PIB não está sendo suficiente para sustentar a máquina pública. Por que? Será que esta pergunta não se responde pelos fatos apontados no início deste texto?
Eu sou contrário a qualquer outro imposto adicional de qualquer ordem ou sigla. Embora a forma de tributação sobre transações financeiras seja a mais simples e mais justa, este tipo de imposto só faz sentido se for o único, excluindo-se TODOS os outros. O fato é que o Poder Público fica com, no mínimo, 1/3 de tudo que produzimos de valor. Fato. Mas fica ainda pior.
A maioria do povo brasileiro de fato, por suas ações concretas, não se importa com a corrupção e, portanto, está muito bem representado. As pessoas que lá estão desejam, como qualquer ser humano, aumentar seus rendimentos. Então há que aumentar a arrecadação. Simples e lógico.
O Ministério da Educação liberou, na segunda-feira dia 12 de setembro de 2011, a lista de qualificação por escolas no Exame Nacional  do Ensino Médio (Enem) de 2010. Do total de 100 escolas que formam o ranking das melhores, apenas 13 delas são da rede pública de ensino. Poderíamos fazer o mesmo raciocínio embasado em dados e fatos na saúde, no transporte, na preservação de rodovias, etc. O fato é que além de ficar com 1/3 de tudo que produzimos o Estado Brasileiro não retorna serviços de qualidade e faz mais leis para proteção de seres desumanos e bandidos do que para cidadão honestos. Assim quem tem mais condições acaba gastando mais de 1/3 com escola particular, sistema de saúde particular, pedágios, veículos particulares, previdência privada, segurança privada e habitação digna. E quem não pode faz o que? Vive como pode. E agradece com votos o programa “Bolsa Esmola”, “Bolsa Família” ou qualquer outro modelo assistencialista. E que venha a “Copa do Mundo”, pois se o Brasil não ganhar o campeonato a tristeza se abala e a indignação dos brasileiros tomará conta das ruas.
Concluindo, vivemos o regime da ignorância em plena era da informação. E o que temos é o resultado de nossa consciência pública que se traduz nas nossas escolhas. E nossas ações advêm das nossas escolhas de forma coerente com nossos reais princípios e valores. Como vivemos em uma democracia baseada na vontade da maioria independentemente de sua ignorância, nós alcançamos exatamente o que desejamos. Por isso estamos muito bem representados.
Parabéns ao povo brasileiro pelo sucesso de nossos políticos.
Simples assim mas pleno de bom senso.

"Aprenda como se você fosse viver para sempre. Viva como se você fosse morrer amanhã". (Gandhi)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Maior Inimigo


Em publicações anteriores fui enfático ao afirmar que a liberdade de comunicação e expressão através de meios lícitos é um princípio básico de uma sociedade que se questiona e evolui. Quem não quer ser questionado, que tem medo de pensar diferente ou que se beneficia do status quo tem verdadeira ojeriza desta liberdade pelo fato da possibilidade de um pensamento influenciar ações no sentido de mudar sua condição supostamente favorável na atualidade.
Toda a mudança na humanidade ocorreu a partir de um novo modelo mental. Mas não foram as mentes que provocaram tais mudanças. Mas ações coletivas neste sentido. Então é preciso que muitas mentes compartilhem de um desejo e de um modelo mental. Depois é preciso de lideranças que convertam céticos e outras pessoas pelo exemplo coerente. A seguir define-se um plano para coordenar ações para um propósito coerente. Enfim,  a realidade vai diferir do plano, das intenções primordiais e o resultado real vai ao encontro das intenções reais. Longe do ideal, mas muito diferente da realidade anterior. Logo não há por que temer um pensamento.
No momento alguns partidos políticos no Brasil discutem uma lei de imprensa, um marco regulatório para a atuação da imprensa e uso da mídia no nosso país. Considerando que são os veículos de imprensa que atualmente estão derrubando ministros do governo e que há censura explícita à imprensa  (e supostamente legal) em países como Venezuela e Argentina, me sinto no direito de inferir os motivos dessa discussão. E as entendo, visto que o princípio básico de formação de leis no Brasil é basicamente o atendimento de interesses dos políticos e seus companheiros, com uma clara possibilidade de enriquecimento pessoal além de seus ganhos ordinários. Legais mas imorais. Então eu, desde já, afirmo que neste marco regulatório serão aprovadas medidas de censura a imprensa na falsa intenção de democratizar a expressão e defender os direitos humanos. Só para lembrar, a liberdade de imprensa é um Direito Humano expresso coerentemente com o artigo décimo nono da DUDH. 
O que os políticos tem que aprender é a arte da tolerância com a expressão de opiniões divergentes do seus interesses. Isso mesmo, interesses. A opinião política divergente em ideologia não importa a ninguém, nem incomoda. Somente a opinião que vai de encontro aos interesses das pessoas que ocupam o poder preocupam, pois podem influenciar quem vota, quem paga imposto e sustenta o status quo. Isto é muito claro quando vemos a pluralidade partidária e ideológica que compõe o governo atual no Brasil. Historicamente podemos resgatar propagandas políticas  das últimas décadas do século 20 de partidos que estão no governo de hoje. Observar a ideologia de cada discurso e comparar com o método de gestão do universo público. Inclusive comparar quem participou e apoiou governos desde a ditadura militar até agora e confirmar que ainda está atuando e apoiando o governo atual. Posso afirmar que, de acordo com a relação entre intenção e resultado, o sistema político atual é muito coerente. Apenas que as intenções declaradas divergem em gênero, número e grau das ações realizadas. Mas as ações revelam muito das verdadeiras intenções. E sem uma imprensa livre, estas intenções reais jamais seriam reveladas. Vamos aguardar o que vai acontecer com a imprensa no Brasil.
Enquanto escrevo este manifesto, fica claro que não possuo seguidores nem pessoas que declarem qualquer coisa a respeito de minhas palavras. Embora seja meu desejo compartilhar com mais pessoas o que penso, por isso escrevo, mas não espero absolutamente nada além da leitura em si, da concordância e da divergência. O objetivo primordial é provocar alguma reflexão.
A poucos dias atrás, mediante notícias de desvios de dinheiro público em âmbito federal, regional e municipal, minha esposa esbravejou palavras indignadas sobre o assunto. E, ainda por cima, reclamou do povo dizendo ser omisso - por que via de regra vê e não faz nada para mudar - e escravo - pois trabalha para sustentar essas pessoas e não tem direitos como à saúde e educação de qualidade. Então ela disse, o que podemos fazer para mudar? E eu disse a ela que só poderemos mudar quando vencermos o maior inimigo, que não é nenhuma dessas pessoas. Mas a Ignorância.
Nós estamos muito bem representados. Nossos políticos fazem o que a maioria de nós faria se lá estivesse, inseridos no sistema sócio-político-econômico atual. E posso afirmar que uma revolução armada ou violenta, que faça as pessoas mudarem "na marra" também não resolve. Lembre que toda ferrramenta deve ser útil para a finalidade que se propõe. Quando usamos greve para melhorar o salário de alguém e o salário não melhora para prover o bem necessário, posso afirmar que a ferrramenta não serve ou não é boa. Quando usamos o voto para melhorar os políticos e os políticos não melhoram, posso afirmar que a ferramenta não serve ou não é boa. Então, quantas revoluções já tivemos na história? De direita, de esquerda, cristã, muçulmana, militar, civil e de qualquer outra categoria? Quantas? Várias. E a fome acabou? Não. E a saúde e educação foram garantidas a toda humanidade? Não. Todos os direitos humanos foram respeitados na medida que os deveres humanos foram cumpridos? Não! Então revolução armada e violenta não serve. Não é uma boa ferramenta para a transformação moral e social. É impossível convencer alguém "na marra" ou "na porrada". Se alguém concorda comigo "por medo" haverá diferença entre intenção e resultado. Portanto não serve.
Logo, cada ser humano precisa compreender com profundidade e perceber dentro de seu contexto a viabilidade de um mundo justo e humano. E, ciente da impermanência, da aleatoriedade e da conectividade, responsabiliza-se pela coerência de seus atos na certeza de que estes influenciam o Todo, no presente, no futuro e no passado. E a transformação acontece na sua presença. Portanto, basta compreender. E para compreender, cada um precisa livrar-se das amarras da ignorância, seu maior inimigo.
Você não vê a ignorância, por que o que você ignora não está em você nem no seu contexto. Portanto vencer a ignorância é lutar contra algo que está fora de você e que você não vê e não sente. Então é preciso uma vontade primordial e intrínseca neste sentido - busca constante de vencer a ignorância. O pior é que tem gente que pensa que sabe tudo, portanto não precisa lutar por que "se acha" o ápice da humanidade. E há os que desistem de lutar por que obter conhecimento e iluminação dá trabalho. Pelo menos, mais trabalho do que votar e deixar na mão de inescrupulosos o meu destino, o nosso destino e o destino da humanidade.
A humanidade só vai mudar quando vencer a ignorância - esse é o nosso maior inimigo. Simples assim, mas pleno de bom senso.