segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Maior Inimigo


Em publicações anteriores fui enfático ao afirmar que a liberdade de comunicação e expressão através de meios lícitos é um princípio básico de uma sociedade que se questiona e evolui. Quem não quer ser questionado, que tem medo de pensar diferente ou que se beneficia do status quo tem verdadeira ojeriza desta liberdade pelo fato da possibilidade de um pensamento influenciar ações no sentido de mudar sua condição supostamente favorável na atualidade.
Toda a mudança na humanidade ocorreu a partir de um novo modelo mental. Mas não foram as mentes que provocaram tais mudanças. Mas ações coletivas neste sentido. Então é preciso que muitas mentes compartilhem de um desejo e de um modelo mental. Depois é preciso de lideranças que convertam céticos e outras pessoas pelo exemplo coerente. A seguir define-se um plano para coordenar ações para um propósito coerente. Enfim,  a realidade vai diferir do plano, das intenções primordiais e o resultado real vai ao encontro das intenções reais. Longe do ideal, mas muito diferente da realidade anterior. Logo não há por que temer um pensamento.
No momento alguns partidos políticos no Brasil discutem uma lei de imprensa, um marco regulatório para a atuação da imprensa e uso da mídia no nosso país. Considerando que são os veículos de imprensa que atualmente estão derrubando ministros do governo e que há censura explícita à imprensa  (e supostamente legal) em países como Venezuela e Argentina, me sinto no direito de inferir os motivos dessa discussão. E as entendo, visto que o princípio básico de formação de leis no Brasil é basicamente o atendimento de interesses dos políticos e seus companheiros, com uma clara possibilidade de enriquecimento pessoal além de seus ganhos ordinários. Legais mas imorais. Então eu, desde já, afirmo que neste marco regulatório serão aprovadas medidas de censura a imprensa na falsa intenção de democratizar a expressão e defender os direitos humanos. Só para lembrar, a liberdade de imprensa é um Direito Humano expresso coerentemente com o artigo décimo nono da DUDH. 
O que os políticos tem que aprender é a arte da tolerância com a expressão de opiniões divergentes do seus interesses. Isso mesmo, interesses. A opinião política divergente em ideologia não importa a ninguém, nem incomoda. Somente a opinião que vai de encontro aos interesses das pessoas que ocupam o poder preocupam, pois podem influenciar quem vota, quem paga imposto e sustenta o status quo. Isto é muito claro quando vemos a pluralidade partidária e ideológica que compõe o governo atual no Brasil. Historicamente podemos resgatar propagandas políticas  das últimas décadas do século 20 de partidos que estão no governo de hoje. Observar a ideologia de cada discurso e comparar com o método de gestão do universo público. Inclusive comparar quem participou e apoiou governos desde a ditadura militar até agora e confirmar que ainda está atuando e apoiando o governo atual. Posso afirmar que, de acordo com a relação entre intenção e resultado, o sistema político atual é muito coerente. Apenas que as intenções declaradas divergem em gênero, número e grau das ações realizadas. Mas as ações revelam muito das verdadeiras intenções. E sem uma imprensa livre, estas intenções reais jamais seriam reveladas. Vamos aguardar o que vai acontecer com a imprensa no Brasil.
Enquanto escrevo este manifesto, fica claro que não possuo seguidores nem pessoas que declarem qualquer coisa a respeito de minhas palavras. Embora seja meu desejo compartilhar com mais pessoas o que penso, por isso escrevo, mas não espero absolutamente nada além da leitura em si, da concordância e da divergência. O objetivo primordial é provocar alguma reflexão.
A poucos dias atrás, mediante notícias de desvios de dinheiro público em âmbito federal, regional e municipal, minha esposa esbravejou palavras indignadas sobre o assunto. E, ainda por cima, reclamou do povo dizendo ser omisso - por que via de regra vê e não faz nada para mudar - e escravo - pois trabalha para sustentar essas pessoas e não tem direitos como à saúde e educação de qualidade. Então ela disse, o que podemos fazer para mudar? E eu disse a ela que só poderemos mudar quando vencermos o maior inimigo, que não é nenhuma dessas pessoas. Mas a Ignorância.
Nós estamos muito bem representados. Nossos políticos fazem o que a maioria de nós faria se lá estivesse, inseridos no sistema sócio-político-econômico atual. E posso afirmar que uma revolução armada ou violenta, que faça as pessoas mudarem "na marra" também não resolve. Lembre que toda ferrramenta deve ser útil para a finalidade que se propõe. Quando usamos greve para melhorar o salário de alguém e o salário não melhora para prover o bem necessário, posso afirmar que a ferrramenta não serve ou não é boa. Quando usamos o voto para melhorar os políticos e os políticos não melhoram, posso afirmar que a ferramenta não serve ou não é boa. Então, quantas revoluções já tivemos na história? De direita, de esquerda, cristã, muçulmana, militar, civil e de qualquer outra categoria? Quantas? Várias. E a fome acabou? Não. E a saúde e educação foram garantidas a toda humanidade? Não. Todos os direitos humanos foram respeitados na medida que os deveres humanos foram cumpridos? Não! Então revolução armada e violenta não serve. Não é uma boa ferramenta para a transformação moral e social. É impossível convencer alguém "na marra" ou "na porrada". Se alguém concorda comigo "por medo" haverá diferença entre intenção e resultado. Portanto não serve.
Logo, cada ser humano precisa compreender com profundidade e perceber dentro de seu contexto a viabilidade de um mundo justo e humano. E, ciente da impermanência, da aleatoriedade e da conectividade, responsabiliza-se pela coerência de seus atos na certeza de que estes influenciam o Todo, no presente, no futuro e no passado. E a transformação acontece na sua presença. Portanto, basta compreender. E para compreender, cada um precisa livrar-se das amarras da ignorância, seu maior inimigo.
Você não vê a ignorância, por que o que você ignora não está em você nem no seu contexto. Portanto vencer a ignorância é lutar contra algo que está fora de você e que você não vê e não sente. Então é preciso uma vontade primordial e intrínseca neste sentido - busca constante de vencer a ignorância. O pior é que tem gente que pensa que sabe tudo, portanto não precisa lutar por que "se acha" o ápice da humanidade. E há os que desistem de lutar por que obter conhecimento e iluminação dá trabalho. Pelo menos, mais trabalho do que votar e deixar na mão de inescrupulosos o meu destino, o nosso destino e o destino da humanidade.
A humanidade só vai mudar quando vencer a ignorância - esse é o nosso maior inimigo. Simples assim, mas pleno de bom senso.

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