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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Uma História de Pai - Desejos

"Um dia você vai servir a alguém." (Vitor Ramil)

Minha filha tem 13 anos. É uma menina linda e com todos os componentes típicos do momento de vida. Ansiedade, dúvidas, medos, paixões, oscilações, vontades, desejos, mudanças biológicas, hormonais e instabilidades emocionais. E encontra-se, como a maioria das meninas de sua idade, verdadeiramente apaixonada por seu ídolo Justin Bieber.
Ainda no início deste ano havia prometido a minha filha que se o Justin Bieber viesse ao Brasil, eu a levaria ao show. Seria a sua primeira experiência neste aspecto e, como pai, desejava assumir esta responsabilidade em proporcionar este desejo. E é sobre a realização de desejos que me permito conversar com você, pois sinceramente não tenho certeza se há uma forma, um limite, uma maneira correta de realizar desejos de um filho. E por que fazemos isso?
Eu tive de meus pais e irmãos (sou o filho mais novo da família) carinho, afeto, respeito, educação e estímulo. Confesso que nos momentos mais difíceis da minha vida, foi minha mãe a única a me estender uma mão financeira, do que não me orgulho. Meu Pai era um motorista de táxi empregado, ou seja, não era dono do táxi e portanto tinha uma renda menor que mínima que mal sustentava o fumo. O braço financeiro da casa sempre foi o de minha mãe. E ela realizou desejos para mim que excederam a capacidade financeira dela. Por exemplo ela me oportunizou fazer o ensino médio em uma escola particular e só Deus sabe o que ela passou para pagar o meu colégio sendo uma humilde e honesta costureira empregada do famoso atelier de Dona Mary Steigleder (que fez o vestido de casamento da Sandra Bréa com o Arthur Guarisse na década de 80).
Confesso que, mais tarde, pude presentear meus pais com a graduação e o mestrado em Química, sendo o único de minha família com um curso superior. Hoje sei que aos olhos de meus pais foi uma vitória e uma devolução pequena ao que me proporcionaram. Porém nunca me dei o direito de ter desejos comuns aos jovens de minha época como de ir a shows musicais, cinema, teatro, festas e badalações na juventude. Meu foco era me formar, arrumar um bom emprego, comprar um carro e um apartamento e, assim, aliviar a carga que impunha principalmente a minha mãe. Porém essa percepção tive apenas depois de muitos anos, pois quando jovens olhamos o mundo de um ponto de vista “umbigal”, centrado em nós mesmos.
Mas desde a mais tenra idade, meus desejos mais concretos foram sempre de independência, o que chamava a atenção de muitas pessoas. Algumas pessoas me viam como um ser estranho e orgulhoso desde criança. Certa vez a Dona Mary Steigleder, uma senhora requintada, elegante, de voz firme e terna, que me conhecia desde bebê me ofereceu delicadamente um dinheiro (algo como R$ 10,00) como um “mimo” em um dia quando fui junto com meu pai buscar minha mãe após o trabalho no atelier que ficava na Avenida Independência, a frente do Teatro Leopoldina, depois batizado de Teatro da OSPA e que agora está desativado. Eu respondi à Dona Mary que não queria o dinheiro, nem precisava dele. Era minha mãe que trabalhava para ela. E à minha mãe o dinheiro era devido. Eu tinha 10 anos de idade e Dona Mary voltou seus olhos para minha mãe e disse “nossa, como ele é orgulhoso, não é”? Eu queria algo que resolvesse a minha vida. Nunca aceitei soluções paliativas ou pequenos prazeres simplesmente por que eram “de graça”. Eu queria ser independente. Mas minha mãe ficou chateada com meu comportamento.
Com o tempo devido, conquistei alguma independência e pude ter acesso a algumas coisas que me permitiram namorar, casar e trabalhar melhor, afinal a era da informação estava “bombando”.
O primeiro show que pude ir ocorreu na década 90 quando pude pagar com meu próprio salário e, se não me engano, era do Oswaldo Montenegro. Foi no então Teatro da OSPA.
Então o futuro chegou e me tornei pai. E busquei de todas as formas tornar a infância de minha filha feliz, provendo a ela muitas coisas que não tive.
Há meses atrás houve o anúncio oficial de que teríamos em Porto Alegre o show da Turnê Mundial do Justin Bieber no dia 10 de outubro de 2011. E tinha que cumprir o prometido.
A venda de ingressos pela internet iniciou às 00:00 do dia 1 de setembro de 2011. E lá estava eu em frente ao meu computador. Ciente de que era a primeira experiência de minha filha em shows e um sonho para ela, compramos o “Gramado Premium”, o ingresso em frente ao palco, o mais caro.
Iniciou-se o segundo dilema. Ela desejava acampar na fila para entrada no estádio a fim de garantir um lugar próximo ao artista e negociamos o mês todo. A minha preocupação residia na falta de percepção de minha filha sobre em que condições de saúde ela estaria para assistir o show, visto que ficaríamos horas em filas, expostos às intempéries (não sei o que seria pior, chuva ou sol escaldante), com alimentos inadequados. Enfim chegamos ao consenso de que iríamos na madrugada do dia do show apesar da sua contrariedade.
Então chegou a véspera do show. Era um domingo e o show caiu numa segunda-feira. Havia acertado com os meus patrões que a minha falta seria substituída por um outro dia de trabalho. Minha filha começou a agitar-se e por telefone falou com amigas que já estavam acampadas no local. Então ela se volta para mim, avisa que não iria dormir e que queria ir para junto de suas amigas. Eu estabeleci o limite, embora absurdo e acima de minha condições físicas, acordaríamos as 4:30 e por voltas das 5:00 lá estaríamos, pois o sono iria fazer bem a ela. Ela foi para a cama soluçando e disse para mim “obrigado pela pior noite de minha vida”! Suas palavras foram uma flechada no meu coração, mas sabia que estava fazendo o certo. Dormi triste.
Acordei às 4:30, minha filha saiu da cama logo depois, fizemos um breakfast com achocolatado e iogurte, fiz uma mochila com roupas (para eventual substituição) e partimos. Não desejava usar o carro pela confusão natural de trânsito nestes eventos. Fomos de metrô até o centro de Porto Alegre e de lá pegamos um taxi até o estádio Beira Rio. Era 5:30 quando chegamos e nos posicionamos no fim de uma fila enorme entre barracas e acampamentos. Acredito que havia de 500 a 1000 pessoas lá. Mas logo atrás de nós, em minutos, chegaram mais umas centenas de pessoas. Estávamos a 14h do inicio do show do Justin Bieber.
Em poucos minutos começa uma correria. O pessoal acampado a mais de uma semana tinha uma lista em torno de 150 a 200 pessoas que estavam a frente na ordem de entrada. A ordem das demais não havia registro. Então as pessoas que chegavam se amontoavam a frente do portão do estádio que ficava a um 300 m do início do acampamento. Confusão na certa. A fila que estávamos se desfez. Todos correram para a porta do estádio. Amontoou-se gente por tudo quanto é canto. Pais e crianças estressadas. Gritos e uma desorganização total. Estava amanhecendo por volta das 6:00 e o dia clareava.
Tivemos que nos reposicionar, a força policial da nossa valorosa Brigada Militar conseguiu colocar ordem e assegurar o posicionamento preferencial aos aproximadamente 200 acampantes listados. Os demais se posicionaram atrás como puderam. Assim fizemos. Então fitas de isolamento foram colocadas para organizar a fila que já era quase quilométrica. Era 7:00 e o sol já batia com vigor em nossas cabeças. Peguei dois bonés da mochila e colocamos. Eu havia previsto este transtorno, pensando que minha filha poderia ter impacto sobre sua saúde se ficasse no sol o dia inteiro. Faltavam 13h para o início do show. Desta forma conseguimos avançar nosso posicionamento original, não por esperteza ou deseducação, mas por que era a condição do momento.
Neste momento outro problema se iniciava, em algumas horas começaria o acesso das pessoas aos portões de entrada ao estádio dependendo do tipo de ingresso. Os portões de entrada somente abririam às 15:00. Então saí da fila deixando minha filha com amigas e fui buscar algo para comermos. Vários quarteirões de distância encontrei um supermercado. Comprei duas sombrinhas (guarda-chuvas), salgadinhos, água, refrigerante e duas banquetas de camping. Recebo uma ligação de minha filha que a fila começara a andar. Peguei um táxi e retornei à fila. Minha filha estava sem fome, bebemos água e refrigerante e usando as banquetas foi possível sentar um pouco à sombra dos guarda-chuvas.
Ás 10:22 nos posicionamos em frente aos portões 4 e 5 em nosso lugar na fila, ao sol. E lá ficamos até às 15:00. Minha filha não quis comer muita coisa, embora tenha oferecido várias vezes. Abriram-se os portões e tive que deixar as banquetas e os alimentos da mochila na entrada. As meninas corriam para se posicionar em frente ao palco. Começa uma aglomeração pois todas desejavam estar bem na frente do palco, mas não havia primeira fila para todas. Para se ter uma ideia, o "Gramado Premium" lotou com todas as pessoas ocupando somente a metade do espaço em frente ao palco, notadamente um aperto descomunal.

O sol estava mais intenso e assim ficou até as 18:00. Durante este período dezenas de meninas passaram mal. Estava previsto: sem dormir, sem comer, emocionalmente sensíveis, um calor insuportável, aquele aperto e sem poder sentar-se. A preocupação com minha filha aumentara. Mas ela estava bem. Aliás, a aglomeração era tanta que nem podíamos mexer os pés. Qualquer movimento podia nos fazer cair. Então minha filha se vira para mim e fala comigo as seguintes palavras: “Estou com fome”!

Nem os vendedores ambulantes chegavam aonde estávamos. Consegui um único alimento: um picolé de chocolate. Rezei para que este sustento lhe fosse suficiente. O resto foram copos de água de 200ml ao valor de R$ 4,00 (equivalente a U$ 2,50). Foram ao todo uns vinte e cinco copos de água só do meu bolso, compartilhados entre todas as pessoas que estavam próximas. Continuávamos em pé com sol a pleno, até o momento que fez alguma sombra no palco. Iria começar os shows de abertura por voltas das 18:45, com certo atraso. Os meus pés e pernas estavam queimando. Minha hérnia de disco lombar não se acusou e dei graças a Deus. Pensei diversas vezes em me afastar da multidão e sentar no chão, mas preocupado com minha filha e sua condição, fiquei por perto para observá-la.
Precisava,  de alguma forma, desviar o pensamento de minhas dores e do tempo que faltaria até o final do evento. Pois muito antes de começar eu já estava em frangalhos. Comecei a “twittar” sobre o que estava passando e a fazer comentários sobre a situação que passamos e os shows. Primeiro do Fat Duo, depois de Starship Cobra e, a seguir, com a introdução de um rapper, aconteceu, para o delírio de todas as meninas, a presença do Justin Bieber.

Eu tenho 1,88m de altura e a maioria das pessoas presentes não passava de 1,60m. Não preciso nem dizer o quanto eu importunei as meninas que infelizmente se posicionaram atrás de mim. A mochila que eu trazia, a qual foi muito útil nos momentos mais terríveis de espera, importunou quem estivesse a minha frente ou às minhas costas. Mas lembro de já haver comentado neste blog sobre como as pessoas, principalmente políticos se comportam sem empatia, pautadas somente no interesse próprio. Várias mães e meninas me batiam às costas e pediam para ficar a minha frente (como se houvesse espaço além do meu, próximo a minha filha). Então delicadamente eu explicava que não podia fazê-lo por que não tinha culpa de ter a altura que tinha e que não estava vendo naquele momento ninguém mais alto do que eu, de forma que se aplicasse o critério de ceder meu lugar em função da minha altura eu iria parar fora do estádio. Uma outra mãe querendo dar uma de “João Sem Braço” me cutucou muito e quando olhei para trás ela apontou para a filha e disse “ela está passando mal, deixe-a passar”, tentando novamente me convencer pela emoção para passá-la para a frente. Eu respondi que se ela estivesse passando mal deveria dirigir-se até os paramédicos mas que era importante a companhia de sua mãe. Respondi então “onde está a mãe dela”? Aquela senhora ficou em silêncio.
 Tirando as baquetadas (bastões coloridos e luminosos usados pela platéia no show) na minha cabeça, as incomodações de quem ficava atrás de mim, a dor insuportável nos pés e pernas, a fome, a sede, os gritos histéricos, tudo estava indo bem, principalmente com minha filha. Note que desde que entramos no estádio às 15:00, ficamos até o momento do show do Justin Bieber exatas 5h em pé, sem outra opção.
Segui “twittando” e fazendo comentários ácidos ao show do Justin Bieber, que vulgarmente e para facilitar a digitação no smartphone, referia como “Biba” em alusão a pronuncia que o rapper utilizava. O fato, musicalmente falando, que os profissionais do show como vocalistas (um quarteto de origem oriental excepcional nos vocais), street dancers, DJ e instrumentistas foram magníficos. Muito acima da performance mediana do astro principal, que abusou dos vocalizes, do playback e do apoio instrumental.
 Não se mostrou grande dançarino, e mesmo na bateria, violão ou piano mostrou que é, por enquanto, um instrumentista mediano, mas com imenso potencial. Sua voz infanto-adolescente é excessivamente aguda e mesmo não desafinando gritantemente, certamente o apoio do playback ajudou, embora tenha soado falso. A roupa que usava tinha um rabo (como se fosse um rabo de cavalo) com fios luminosos no bolso traseiro que estava estranho como se tivesse um busca-pé aceso no glúteo. Abusou de caras e bocas e, graças sua fotogenia, garantiu o delírio de todas as fãs presentes. Com tudo isso fui me distraindo no twitter, superando todas dores e desconfortos e observando minha filha, que chorou copiosamente durante todo o espetáculo.

O choro de minha filha me desconcertou. Não sabia se era de prazer ou de dor. Se estava chateada ou em delírio de fã. Mas não quis interferir. Ela estava passando bem e vivendo o momento que ela desejou com todos os seus requisitos atendidos, ou pelo menos quase todos.
Com 1h e 45min de show estava tudo acabado. Saímos do estádio por volta das 10:00 em frangalhos. Pegamos um táxi e fomos para a casa de minha mãe onde minha esposa havia deixado o carro sob minha orientação. Eu havia previsto a melhor logística de saída. Antes da meia noite da segunda feira estávamos todos em casa.
Tomei um banho e até uma massagem nos pés me foi concedida pela minha esposa e companheira. Não sabia o que estava sentido se é que sentia alguma coisa. Cheguei a pensar que a eutanásia é justa em alguns casos... e finalmente adormeci.
No outro dia, no trabalho, acessei o twitter e vi a seguinte postagem de minha filha em letras maiúsculas: “FOI O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA”! Era como se tudo que eu passei tivesse valido a pena. Tudo mesmo, não só naquele dia fatídico, mas toda a minha vida fazia algum sentido.
Então eu escrevi a seguinte e estranha frase no twitter: “Não poupe seus pais dos seus desejos pois só assim eles poderão permitir que você os faça felizes”.
O único modo de realizar nossos desejos é expressando-os. Passei minha vida inteira engolindo meus desejos por que não via a possibilidade de realizá-los. Aprendi a elaborar frustrações muito cedo na vida por que como não me permitia o desejo, a frustração era certa.
Sei que não terei condições físicas e financeiras de realizar todos os desejos de minha filha, mas a realização de algum deles permitirá a felicidade dela. E “quem beija meus filhos, minha boca adoça”, dizia a Dona Matilde. Me arrependi das críticas ao ídolo de minha filha. Não do conteúdo, mas do momento em que as fiz, pois não precisava que ela soubesse o que penso com a minha razão. Acabei postando que "se ela estava feliz, minha opinião pouco importa ou tem nenhum valor". Aprendemos juntos que a felicidade é sempre uma referência para o valor das coisas. E a felicidade de um filho, mesmo que este não compreenda ou reconheça o esforço que fazemos, nos é definitiva em termos de realização pessoal. Meu amigo Rodrigo Grecco mandou-me a seguinte frase da música de Vitor Ramil: "Um dia você vai servir a alguém". É isso mesmo.
O fato é que precisamos de sonhos e desejos. Eles são de fato a força motora da vida. A não realização não é frustrante por que a vida da gente não muda pelo que não acontece. Mas a expressão de nossos desejos é, sem dúvida, o primeiro meio para facilitar a conspiração do Universo a nosso favor pela força da atração. E se tivermos alguma chance de realizá-los, essa possibilidade se traduzirá em fato, conquista, realização e, portanto, felicidade. 
Por isso comecei o Manifesto Bonsensista, a fim de expressar o desejo de uma sociedade humana, igualitária, justa e feliz para todos, principalmente para os nossos filhos. Simples assim, mas pleno de bom senso.

Video: Vitor Ramil e Lenine -  Um dia você vai servir a alguem

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Sociedade do Bom Senso

Uma sociedade humana é aquela onde os direitos humanos de todos são respeitados por todos. Quem não respeita o direito humano de alguém abdica da sua própria humanidade por uma escolha consciente ou não. Cabe ao Estado prover, a partir dos impostos, o remédio efetivo dos danos causados a cada cidadão humano sem demora indevida. A criatura que age desumanamente ou não-humanamente deve ser tratada de acordo com a lei na justa proporção do dano causado.
O que vivemos hoje é uma relação delito-punição. A única pessoa que fica de fora desta discussão são os verdadeiros prejudicados. E pior. Recentemente houve um caso de um adolescente assassino confesso de 8 pessoas (humanas, trabalhadoras e com família). Este indivíduo, desumano, ficou num reformatório para adolescentes por não ter maioridade legal e foi liberado. Voltou a cometer crimes e ao atingir sua maioridade encontra-se sob um programa de proteção da justiça.
Então o nosso dinheiro pago pelos impostos é gasto para proteger uma criatura que já deveria ter sido banida do convívio humano e nenhum tostão foi gasto na reposição dos danos causados pelo meliante às famílias das pessoas prejudicadas e assassinadas. Nunca haverá justiça numa situação dessas.
Também toda lei deveria ser escrita para o que o cidadão (humano) não deve fazer. Se o fizer perde a cidadania e a humanidade. Simples assim. Leis para índios, negros, funcionários públicos, homossexuais, categorias de classe, pobres, enfim, para qualquer distinção entre seres humanos é desumana, mesmo que bem-intencionadas.
A segurança é um direito absoluto, onde o valor principal dos impostos deveria ser amplamente investido, sem a qual não há vida, tranqüilidade, saúde, lazer, felicidade, ao contrário, só medo, desconfiança e violência.
Também é preciso sentir-se livre em alguma extensão, com algum poder de escolha. Mas fundamentalmente livre para expressar-se no pensamento de forma legal, na literatura, arte ou ciência.
Sempre é importante frisar que um pensamento não modifica nada essencialmente e realmente. Somente uma ação concreta e, principalmente, coletiva pode provocar uma realização ou mudança. Se eu penso que você é desonesto isto não te torna desonesto. Se eu escrevo que você é desonesto admito que você vai se sentir ofendido, mas isto não te torna desonesto. Você só será desonesto quando praticar uma ação desonesta.
Uma ação desonesta deve implicar no remédio efetivo e rápido do dano causado pela desonestidade. Mas, também e infelizmente, numa punição pública ao desonesto. A punição deve ser um estímulo aversivo para que quem não é desonesto seja estimulado a não sê-lo. Então a punição nunca visará a recuperação de um desonesto, mas servir de exemplo aos honestos, por isso ela deve ser muito aversiva e implacável. Por isso não pode haver prescrição de pena.
Mas todo fato público deve ser público. O que tem conseqüências públicas deve ser público. O que envolve o dinheiro público deve ser público. A publicidade é uma das maiores proteções ao ser humano honesto. A privacidade sobre questões públicas somente acoberta desonestidades.
Somente assim seremos iguais perante a lei. Mas é preciso leis justas e humanas que protejam o cidadão daqueles que são desumanos. E assim haverá um tratamento judicial público, justo e humano.
Que tenhamos maior atenção a diferença entre inocente com provas, inocente por ausência de provas e culpado (sempre com provas). Mas também é preciso que obviedades como gravações e filmes sejam provas. E que fique claro que gravações de áudio ou vídeo para fins de obtenção de prova não devem necessitar de autorização judicial e, sem dúvidas, quando não editados, devem caracterizar-se como flagrante.
Devemos, portanto, ter clareza do que deve ser público ou privado. Mas tenho absoluta certeza de que a maior parte de nossas atitudes caracterizam-se por ações públicas. Há muita atividade desleal, desonesta e desumana considerada privada para permitirem-se acobertadas a revelia da lei. Sigilos e privacidades protegem muitos infratores. Talvez os piores. Não tenho dúvida que conversas de presos com seus advogados devam ser gravadas e publicadas. Um advogado pode e deve defender um desonesto para que este receba a punição justa, não maior que o dano causado. Mas jamais para pedir sua inocência. Pois neste caso o advogado deveria ser processado como cúmplice.
Entenda que a idéia é a proteção e valorização do honesto. Apenas isso e simples assim. O contrário não pode ser aceitável e deve haver lei, justiça e segurança públicas para tornar este critério real.
Assim poderemos exercer nossa humanidade em pleno direito de ir e vir, morar e ser feliz. Poderemos, então, participar de movimentos sociais legítimos que não afetem a humanidade de ninguém e que sejam respostas coletivas a anseios sociais justos, humanos e não sectários.
Ao exercer nossa cidadania nos tornamos verdadeiramente e concretamente indivíduos sociais de uma nação por que respeitamos as leis dessa nação, seja esta qual for. Nossa cidadania não se faz pelo local geográfico do nascimento, mas pela adesão consciente a uma legislação. Por isso não pode haver dupla cidadania. Se dois países têm a mesma legislação então não são dois países, mas um só.
E que formemos uma família com responsabilidade ecológica. É preciso limites para o número de seres humanos na face da terra. Me desculpem Warren Buffet e demais investidores em bolsas de valores. Um mundo mais ecológico vai fazer as bolsas do mundo inteiro retrair. Pois o mundo será mais ecológico com mercados menores por que haverá menos gente. Esta é uma equação simples que precisa ser considerada de forma responsável se quisermos tornar a humanidade mais longeva.
Porém é preciso assegurarmos o direito a propriedade. A segurança pessoal está vinculada à propriedade. E precisamos de segurança à propriedade dos seres humanos. A propriedade de seres desumanos pode ser utilizada para remédio efetivo dos danos causados pelas desumanidades.
E que possamos viver uma religião ou não, mas fundamentalmente respeitando a religião do outro. Porém a humanidade somente poderá aceitar uma religião humana. O Estado deverá regular as ações religiosas e controlar as transações financeiras dos religiosos e das ordens religiosas. A religião só é válida quando subordinada ao Estado (desde que humano) e não há como ser diferente.
Então poderemos nos expressar livremente na arte, literatura, musica, religião, meios de comunicação. Assim nossa humanidade se eleva a um novo patamar. Seremos agentes de nossa própria felicidade.
Também poderemos agir coletivamente reunidos em alguma associação com alguma finalidade e procedimentos humanos, coerentes em intenção e resultado.
E não poderemos de nos furtar de exercer o voto e a democracia de modo consciente. Portanto temos que entender programas e projetos políticos. Também aceitar que não se pode votar em causa própria nem decidir o que fazer com o dinheiro dos outros. Ou seja, funcionário público que é sustentado e financiado pelo dinheiro privado não pode ter direito a voto. Uma verdadeira democracia se faz com o voto de pessoas que tem plena consciência dos projetos políticos dos candidatos e que pertença ao setor privado, verdadeiro acionista do setor público.
Assim tenho a absoluta certeza de que os projetos políticos investiriam muito mais no que é necessário à coletividade e menos aos interesses pessoais, assegurando a realização do cidadão como ser humano pleno, seguro e feliz.
Então cada ser humano poderá exercer seu trabalho com remuneração justa e digna. E com tempo livre suficiente para dedicar-se à arte, à cultura, à inovação, à criatividade, ao cuidado emocional e ético de seus filhos ou, até mesmo, ao dolce far niente”, incluindo repouso e lazer.
Assegurando-se um padrão de vida, com saúde e bem-estar para todo ser humano, poderemos e deveremos direcionar nossas ansiedades, emoções, energias e vontades para a bondade, para a caridade e para que nos tornemos cada vez mais humanos, lutando bravamente e eficazmente contra a desumanidade, o que implica em assumirmos maiores responsabilidades sociais e ecológicas. É uma nova sociedade com pleno exercício do Direito de Aprender, com novos sistemas de instrução e educação. Onde o aprendiz seja o agente responsável pelo aprendizado, não importando o professor ou o banco no qual tenha sentado. Embora a ignorância seja uma escolha a ser respeitada ela traz consigo restrições ao pleno exercício da cidadania, como o voto, por exemplo.
Mas viver, construir, desenvolver e inovar na cultura, na arte e na ciência são, de alguma forma, motivações intrínsecas humanas que devem ser permitidas a todos. E isto não se faz sem tempo livre. O tempo livre é uma aspiração humana que deve ser tratada pela humanidade de forma imediata. É agora. Não dá mais para esperar. Imediatamente, a redução da jornada de trabalho para 4h implicará no fim do desemprego atual e na clara percepção que inúmeras funções executivas (não produtivas) não precisam mais do que isso para serem eficazes.
Assim teremos verdadeiramente uma nova ordem social baseada na preservação e no exercício da humanidade e, portanto, da felicidade. Haverá privilegiados. Mas dentre os privilegiados não haverá desonestos e desumanos. Esta é a grande diferença em relação a ordem atual. Os privilegiados serão os cidadãos (humanos). Infelizmente os desumanos, desonestos, enfim, os não-cidadãos deverão ter mais trabalho para recuperar sua dignidade pois isto é parte da conseqüência responsável de sua escolha, consciente ou não.
Esta nova ordem pode ser construída quando cada ser humano for consciente de que para angariar direitos deverá cumprir todos os deveres com seus semelhantes. Mas que exigir direitos, temos que ter um Estado que assegure o cumprimento de deveres humanos.
Então é preciso:
  • construir leis e normas humanas, simples e inteligíveis.
  • acabar com dinheiro em formato físico (papel ou moeda)
  • ter um sistema tributário baseado na geração de valor dependente exclusivamente de transações financeiras (todas eletrônicas)
  • entender que o setor privado é o gerador de valor
  • aceitar que o setor público é subordinado a vontade democrática do setor privado
  • exigir que ONGs/OSCs sejam eficazes gerencialmente para prover os benefícios desejados a fim de receber doações
  • organizar o Estado em 5 poderes independentes:
  1. Legislativo (faz leis simples e inteligíveis baseada em princípios humanos e de bom senso),
  2. Executivo (gerencia o Estado de acordo com as leis, estabelece estratégias e as executa de acordo com normas, prove a reparação dos danos causados a cidadãos por falhas de segurança e acts of god, etc.),
  3. Informação (mantém o povo informado de tudo, faz auditorias, sindicâncias, obtém provas de má conduta, publica resultados, divulga despesas e receitas, etc.),
  4. Segurança (provê segurança de pessoas e informações, prende quem não cumpre a lei e providencia a pena definida em lei e emitida pelo judiciário) e
  5. Judiciário (decide pela absolvição, culpa ou dolo com base em provas e em requisitos legais não atendidos por um ou mais indivíduos)
    Perceba agora o motivo do Manifesto Bonsensista. É preciso ter presente em seu contexto a possibilidade de construir um novo sistema de vida. Uma nova ordem. Porém esta nova ordem possível não se torna plausível mediante uma simplória explicação. Os problemas atuais são complexos e sistêmicos. As desumanidades e injustiças são várias e multifacetadas. Aceitar a lógica do bom senso implica em inseguranças para um grupo enorme de privilegiados desonestos e desumanos e que detém poderes no modelo atual. Poderes mascarados de legítimos, democráticos e de direito, mas que verdadeiramente nunca foram legitimados pela consciência pública, nem baseados em legislações humanas, igualitárias e justas e muito menos legitimamente democráticas na medida de que os votantes sejam exclusivamente conscientes e membros do poder privado que é o verdadeiro acionista do poder público, o qual deveria dedicar-se com imenso afinco ao bem comum.
    Os fundamentos, princípios e critérios para uma sociedade humana e feliz estão essencialmente aqui reunidos mesmo que consciente da falibilidade humana de quem os publicou.
    Ninguém é obrigado a aceitar o que está proposto. Porém isto implica em conseqüências reais e vividas todo dia. Se você não concorda com alguma posição deste manifesto, é seu pleno direito humano. A você, que não compartilha com o modelo aqui apresentado, caberá apenas uma de duas posições. Rejeitá-lo aceitando que vivemos a melhor sociedade, a mais justa, humana e perfeita, portanto nada há para mudar, ou propor uma nova ordem, melhor que a Sociedade do Bom Senso.
    Simples assim, mas pleno, recheado, lavado e enxaguado de bom senso.

    quarta-feira, 3 de agosto de 2011

    Indicador de Sucesso Governamental

    A sociedade nova proposta pelo Manifesto Bonsensista visa uma possibilidade factível de felicidade integral.
    Já afirmei reiteradas vezes que tudo que precisamos para ser feliz já foi, de alguma forma, inventado. Agora vamos propor uma medida de sucesso governamental, afinal precisamos de um indicador para avaliarmos um governo que seja, no mínimo, melhor que popularidade.
    É enfadonho, triste, idiota e desumano avaliar a “popularidade” de um presidente da república, por exemplo. O que significa alta popularidade? Competência? Com certeza não, caso contrário os melhores governantes do mundo atual seriam o Justin Bieber e o Luan Santana.
    Assim, a eficácia de um governo deve ser medida pelo nível de felicidade de seu povo. Esta medida é um marco na história mundial desde um período “muito recente” que não deu tempo para nossos políticos aprenderem. Foi só em 1972 e num país altamente desenvolvido – o Butão. Simples assim, veja o texto obtido em http://www.felicidadeinternabruta.org.br/:


     Pronto. Já temos como avaliar a competência de um governante. Simples assim. Obrigado Butão pela sua grandeza e pela sua riqueza. Um dia há de chegar, onde o Brasil seja reconhecido mais pela felicidade vivida do que pela corrupção enlouquecida.
    Simples assim, mas recheado de felicidade e pleno de bom senso.