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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Doações de Campanha - Antes ou Depois do Serviço?

Certo dia me dei conta de que havia algo de podre no nosso Reino. Há um senso comum que nos provoca inferências sobre a relação de políticos e seus entes próximos (correligionários, amigos, colegas de partido, indicados de outros políticos, pessoas credoras de favores, etc.) com o dinheiro público ou privado, não importa a origem.
Cenas de pagamento de propinas, dinheiro escondido em cuecas, mensalões, mensalinhos, depósitos em paraísos fiscais, uso de "laranjas" em empresas ganhadoras de licitações, superfaturamento de obras, quebras legais e oportunas de requisitos e redução da publicidade necessária a processos licitatórios para viabilizar e acelerar obras, enfim, um conjunto de métodos, artifícios e mecanismos que viabilizam o acesso de pessoas públicas a dinheiro que, de alguma forma, excedem seus ganhos salariais ordinários, fora os benefícios, são cotidianamente explorados pela imprensa normalmente dois a quatro anos após a ocorrência dos mesmos, mas, eventualmente, durante os acontecimentos também. Mas nós não ficamos realmente indignados, por que? Por que é comum. É notícia velha. Não é novidade. Não nos chama a atenção e, portanto, pouco a pouco vai perdendo o interesse pela imprensa também, que vive de audiência e leitores.
A revista Veja e o jornal Folha de São Paulo têm se caracterizado como instrumentos de derrubada de ministros desde o governo Lula e, neste momento, no governo Dilma Roussef. O Financial Times expressa que "Dilma derruba ministros como bananas". E a conversa é a seguinte. A oposição faz um papel bravateiro exigindo uma "CPI da corrupção", pois é consciente que CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) servem apenas para ajudá-los em publicidade e não provoca consequencias maiores à políticos. A situação diz que Dilma tem se demonstrado uma "paladina" do combate a corrupção e vem responsabilizando-a por uma "faxina" no setor público.
Nenhuma das duas posturas são suficientes. Primeiro por que CPI nunca foi uma ferramenta capaz de aprimorar o modelo político atual e eliminar a possibilidade da corrupção de forma preditiva e preventiva, produzindo punição real (no mínimo detenção por alguns anos) para os políticos notoriamente, publicamente e comprovadamente corruptos e corruptores. Lembre o nosso artigo sobre intenção e resultado. Também com a CPI a intenção é uma e o resultado é outro. E quanto a mitificação da figura de "Paladina do Combate a Corrupção" ou de "faxineira" feita pela situação, esta não vai colar de jeito nenhum. Faço uma simples pergunta. Qual ministro, dos vários, que caiu por motivos de envolvimento possível com corrupção sem a necessidade de notícias veiculadas pela imprensa, mas como resultado de uma atitude de fiscalização e controle gerencial do governo? Essa até eu respondo: Nenhum! Logo, todas as demissões foram provocadas a partir da publicidade pela imprensa. E ressalto que ninguém foi preso. E nem será.
Aliás teve um único ministro que não caiu por problemas de corrupção que foi o Sr. Nelson Jobim. Ele caiu por afirmar que a Ex-senadora Ideli Salvatti, reconhecida como "pit-bull do lulismo e madrinha dos mensaleiros" é "fraquinha", e que a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, "nem sequer conhece Brasília" e que política do Governo Dilma é "atrapalhada". Então, para ser justo, o Sr. Nelson Jobim foi destituído do cargo de forma justa pela insubordinação e de forma injusta por dizer a verdade. Mas não foi por corrupção.
Para mim, é a maior injustiça alguém ser demitido por algo que não tem prova de culpa ou dolo. Por que se houvesse prova, é só colocar na cadeia e jogar a chave fora. Por isso considero a atitude da Presidenta Dilma Roussef injusta com as pessoas que ela escolheu para os cargos de sua confiança. E as mudanças recentes não foram motivadas por questões meramente administrativas ou de mudança de modelo de gestão. Mas por denuncias de corrupção veiculadas por órgãos de imprensa.
Se eu escrevo aqui neste blog que você é desonesto, isto não te torna desonesto. Você poderia e deveria ficar chateado comigo. Mas seria a minha opinião, maluca, obtusa, desvairada e sem provas. Você continuaria sua vida e eu cairia no esquecimento e ainda passaria por mentiroso pelo resto da minha vida, não é?
Então por que os ministros de Dilma e Lula caíram por causa de denúncias vazias e sem provas da imprensa? Afinal ninguém foi preso, logo entendo que são pessoas livres e inocentes. O Palocci caiu duas vezes, uma com o Lula e outra com a Dilma. E continua por aí, tranquilo e rico. Por que é um cidadão livre, inocente do ponto de vista legal da sociedade brasileira e que não deve nada a ninguém. Suas duas demissões foram amplamente injustas. O Palocci deveria se manter no governo pela confiança que Lula e Dilma depositam nele. O mesmo vale para todos os demitidos pelo Governo Dilma.
Então surge uma voz (no congresso ou senado) dizendo que o ministro acusado deve se afastar para poder se defender das acusações. E líderes partidários fazem o mesmo, reiterando que a saída do ministro é melhor para a imagem do governo e o acusado terá mais tempo livre para se defender do assunto. E assim acontece. Eu fico imaginando se cada pessoa acusada na justiça pudesse parar de trabalhar só para se defender. Poderia faltar muita gente ao trabalho hoje.
E qual é o resultado de todas estas acusações? Nenhum do ponto de vista da acusação em si. Ninguém é preso por prescrição de pena ou por ausência de provas. Mas muitos políticos ganham mais notoriedade e veículos da imprensa aumentam suas vendas e patrocínios em função do incremento de audiência e leitores. Intenção e resultado. A intenção é aparentemente uma, mas o resultado é certamente outro. E os fatos se repetem por que os resultados têm sido muito satisfatórios para muita gente. E muitos políticos acusados acabam melhorando seu desempenho em eleições. Assim fica melhor ainda.
E incluo nesta questão o fato de estarmos muito bem representados. Os políticos eleitos são a nossa melhor representação. Qual a diferença de resultado se trocasse todos os políticos atuais por gente que nunca foi eleita? Posso supor que não seriam muito diferentes. A honestidade é notícia no Brasil. No Japão foram devolvidos R$ 125 milhões encontrados na área destruída pelo tsunami recente, que corresponde a 96% do dinheiro vivo encontrado nas residências afetadas. Você sinceramente pensa que isto ocorreria no Brasil do mesmo jeito? Eu penso que não, mas você pode discordar. Mas se o que penso é verdade, trocar as pessoas do congresso, senado e executivo vai mudar o Brasil? Penso que não. O problema é o sistema. Nosso sistema não permite uma fiscalização real e uma punição verdadeira, discutindo se evidências como filmes e gravações (autorizadas ou não) são provas ou não.
Eu sempre me questionei como um político conseguiria colocar a mão numa verba pública, visto que há tantos mecanismos e documentos para assegurar a legitimidade de uma transação, obra, projeto social, licitações, enfim, tudo que depende de dinheiro no governo. A pergunta é: há um meio de se colocar a mão em dinheiro público sem deixar provas? Eu afirmo que há. Caso contrário a vida dos políticos seria menos concorrida.
Se você compreender como pode funcionar o esquema das verbas de campanha vai compreender como a política pode ser lucrativa. As doações de campanha são necessárias para viabilizar a eleição das pessoas que desejamos que sejam vitoriosas em uma eleição (por alguma razão). As verbas de campanha são oriundas de pessoas físicas ou jurídicas. Porém quando uma pessoa jurídica (uma empresa) faz uma doação, é comum questionarmos quais seriam os interesses desta empresa na eleição de determinado político. Sempre imaginamos que com o pagamento ANTES da eleição o eleito iria facilitar alguma coisa para os investidores, ou melhor, doadores. Posso afirmar que não se preocupem com isso. Uma empresa, se tivesse algum interesse em algum projeto futuro, teria que gastar muito dinheiro com todos os prováveis eleitos. O investimento seria muito alto e pouco inteligente. Então, para aqueles que não sabem como fazer, de forma legal, vai aqui uma proposta de ajuda.
Vamos imaginar que uma determinada cidade necessite de alguns quilômetros de tubulações para esgoto cloacal e pluvial. Estes tubos podem ser de concreto, plástico ou aço. Se for feito de concreto gastar-se-ia R$ 50 milhões. Se for feito de aço o projeto seria de R$ 60 milhões. Se for feito de plástico o poder público teria de investir R$ 70 milhões. Até então ninguém sabe desses valores, pois a licitação ainda não foi aberta. Porém o pessoal da indústria plástica, em uma reunião a porta fechadas em local ignorado, acerta um repasse de R$ 30 milhões na próxima campanha eleitoral se eles forem os vencedores da licitação (pagamento DEPOIS da obra concluída e paga).
Neste caso, abre-se um processo licitatório justificando-se tecnicamente a necessidade da tubulação em plástico e o valor mínimo da licitação é de R$ 100 milhões (R$ 70 milhões de custo mais R$ 30 milhões de comissão para os políticos). A empresa com as condições técnicas asseguradas ganha a licitação licitamente (perdoem o pleonasmo). E a empresa dos tubos de plástico executa a obra e recebe R$ 100 milhões. Então vem a nova campanha eleitoral. Os R$ 30 milhões são doados e distribuídos legalmente pela empresa para todos os beneficiários estipulados como verbas de campanha para determinados partidos políticos. Então surge uma genialidade para conversão do dinheiro em algo que os políticos possam meter a mão legalmente: os prestadores de serviço. Diferentemente do plástico, aço e concreto, serviços não tem estoque nem valor fixo. O publicitário Duda Mendonça, por exemplo, ficou notoriamente marcado como homem de Marketing Político. Mas pode ser qualquer um. Eu posso prestar serviço de consultoria para um partido político e posso cobrar qualquer valor e tirar uma Nota Fiscal. Simples assim. O fato é que um partido gasta com passagens de avião, material impresso que é extremamente barato e com gravações de vídeo e áudio que são muito baratas e podem ser feitas até em casa, com equipamento que adquirimos em lojas populares. Porém a consultoria de Marketing Político custa uma fortuna em milhões de reais. Vamos supor que seja uma única Nota Fiscal para efeito de cálculo, mas poderia ser várias.
Um prestador de serviços em Porto Alegre precisa descontar em torno de 17,5% em impostos. Então eu emito uma Nota Fiscal de Prestação de Serviços de Consultoria de R$ 30 milhões. Suponha que tenha acertado uma comissão de 5% nesta transação com o Partido Político. Então a minha empresa fica com R$ 5,25 milhões para pagamento de impostos, mais uma verba de comissão de R$ 1,5 milhão para mim. Dos R$ 30 milhões sobraram R$ 23,25 milhões que podem ser declarados como lucro isento de impostos no imposto de renda do prestador de serviços. Todo dinheiro está legalizado.
Agora é só comprar apartamentos, terrenos, casas, veículos em nome de pessoas indicadas pelos políticos (laranjas e parentes) e fazer doações, dar presentes em aniversários, e gastar todos os R$ 23, 25 milhões de acordo com a lei. Tudo com Nota Fiscal e legal. Imoral, mas legal e sem provas. Ou melhor, com provas de honestidade pois tudo foi realizado de acordo com a lei. Simples assim. 
Portanto, as verbas de campanha podem ser o pagamento posterior à obra concluída e não a antecipação motivadora de interesses somente. O pagamento dos políticos pode ser feito após a obra concluída, durante a campanha. Tenho dito regularmente que a minha preocupação com gastos de campanha não é com quem ganha, mas quem sistematicamente perde. Haja vontade de perder não é? Acho que em alguns casos perder a eleição é melhor que ganhar do ponto de vista financeiro. O político sai do foco da imprensa por não ter sido eleito.
E o pessoal do Aço e do Concreto? Vão espernear, discutir e embaçar o negócio? Não. Por que? Por que vai ter negócio pra eles também e segue a vida. O Brasil é muito grande e precisa de muitos serviços, assim como os serviços que os partidos precisam na campanha eleitoral. Aliás, o Ex-Ministro (duas vezes) Palocci teve excelentes remunerações legais como prestador de serviços de consultoria segundo o que foi veiculado na imprensa. Tudo certo e tudo legal. Perfeito. Cumprimentos a todos.
Então, pode-se ter acesso ao dinheiro público de forma legalizada no Brasil. Não tenho certeza ou prova de que aconteça. Mas é possível. Simples assim, mas pleno de bom senso... ou não.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Intenção e Resultado

Na publicação anterior fui enfático ao propor um dos critérios de análise de bom senso que é a comparação entre intenção e resultado. Por isso interrompo a continuidade daquele trabalho para reforçar este critério devido a um acontecimento noticiado hoje pela manhã nos telejornais e na Internet. Veja a notícia relatada abaixo:
GO: homem cria armadilha em casa e mata assaltante
15 de julho de 2011 • 03h36
Um homem morreu ao tentar invadir a casa de um morador da cidade de Formosa, localizada no Estado de Goiás e a 75 km de Brasília. Ele foi atingido no peito por um disparo de arma caseira, construída pelo próprio dono da casa, já cansado de ter a casa assaltada pelo rapaz. As informações são do Jornal da Globo.
A arma que vitimou Jefferson Marques Evangelista, 32 anos, que morreu na hora, estava posta sobre uma mesa e foi acionada com a abertura da porta da cozinha pelo ladrão. O morador, José Geraldo de Souza, 28, vai responder a processo por homicídio doloso - neste caso, por ter assumido o risco de matar. Por conta disso, pode ser condenado a até 30 anos de prisão.”
(Leia esta notícia em:Terra - Brasil
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5243012-EI5030,00-GO+homem+cria+armadilha+em+casa+e+mata+assaltante.html#comment)
Então fica tácito que estamos nos referindo a um ser humano, em sua casa, sem a proteção do Estado, abandonado a própria sorte e a mercê de sucessivas invasões ao seu patrimônio com ameaça à sua segurança e de seus familiares de um ser praticante de desumanidades, portanto um não-cidadão. Este indivíduo invasor deveria estar cuidando de sua própria vida e não tinha nada que invadir a casa de outrem. Simples assim. É muito importante perceber que temos dois personagens nesta história. Um cidadão e um não-cidadão. Lembrando que cidadão é aquele que cumpre leis, desde que estas leis sejam justas e humanas, onde o critério de justiça e humanidade é a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ninguém tem o direito de invadir a casa de outra pessoa. Ponto final. Está identificado o transgressor - o não-cidadão.
O cidadão ameaçado decide construir uma armadilha para sua proteção. Qual a sua intenção? Proteger-se e evitar definitivamente e corretivamente a causa de seu problema, visto que o Estado é omisso. Resultado qual foi? Exatamente o da sua intenção. Perfeito. O indivíduo, não-cidadão foi aonde não deveria ir e a ferramenta criada pelo cidadão foi perfeita em sua intenção e resultado dentro da sua propriedade.
Os âncoras do telejornal “Bom dia Brasil” da Rede Globo (no dia 15 de julho de 2011) fizeram alguns comentários que são pertinentes, como “e se fosse uma criança...”, supondo que uma criança, poderia entrar em casa alheia por qualquer razão, reforçando que o cidadão não poderia ter feito tal armadilha e que “poderia ter usado cães ou cerca elétrica”.
Primeiro, afirmo que eu já fui criança. Sabia desde a mais tenra idade que não devia entrar na casa de outros sem pedir licença. Portanto é preciso educar as crianças e não proibir que as pessoas se protejam.
Então vamos supor que mediante a mesma intenção o cidadão tivesse feito uso de cães como aconselhado pelo pessoal da Rede Globo. Quantos casos já foram relatados de cães que fogem a matam crianças na rua? Varias vezes (veja http://www.dogsbite.org/bite-statistics.htm) como mostra uma estatística dos EUA:
Resultados de 1982-2010:
Raça
Danos Corporais
Vítimas Infantis
Vítimas Adultas
Mortes
Mutilação
% da população de cães
Pit bull terrier
1552
691
529
166
859
.041
Rottweiler
457
262
118
73
246
.009
Husky
56
36
4
21
14
.081
Wolf hybrid
82
68
4
19
46
.003
Bullmastiff (Presa canario)
58
22
21
9
31
.013
German shepherd
79
52
20
9
50
.018
German shepherd-mix
37
26
8
7
24

Chow
53
35
15
7
35
.016
Pit bull-mix
102
44
21
7
51

Doberman
14
8
6
6
7
.008
*Gráfico ordenados por número de mortes; inclui apenas uma parte de raças enumeradas no relatório.
Comparando-se a intenção com o resultado, pergunto, o cachorro é melhor que a armadilha do cidadão de Goiás? Para mim é óbvio que não.
Agora eu pergunto quantos donos de cachorros poderiam ser condenados ou foram condenados a 30 anos de prisão? No entanto este cidadão que fez algo necessário e, na defesa de sua propriedade e de sua família, mediante a imensa omissão do Estado, tanto em recursos de segurança quanto de legislação, foi preciso e eficaz.
Se houver qualquer processo contra este cidadão e herói da sociedade brasileira teremos cometido a maior injustiça que uma sociedade pode cometer. Temos que dar uma medalha de honra ao mérito pela sua contribuição pela diminuição dos meliantes da sociedade e em nome da defesa dos cidadãos e de suas famílias. Graças a este cidadão goiano temos hoje uma sociedade um pouco (muito pouco) mais segura.
Porém se o Estado tivesse cumprido com sua obrigação de defesa e proteção eficaz do cidadão isto jamais teria acontecido. A causa raiz do problema está no Estado e na sua omissão e ineficácia em prover segurança ao cidadão.
Se alguém precisa ser processado e condenado são as estruturas de segurança estatais. Simples assim, mas pleno de bom senso.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Bom Senso

Não há dúvida de que precisamos um novo olhar sobre a ordem de nossa sociedade baseada na possibilidade de exercermos plenamente nossos Direitos Humanos. É neste ponto que o bom senso se apoia.
Entendo que muitos vão ler este manifesto de forma emocional, supondo que tenho alguma animosidade a priori com algum tipo pessoa. É evidente que não.
Apenas nos propomos a questionar o distanciamento que vivemos de uma sociedade verdadeiramente humana, compreendendo-a, questionando-a e, a partir de novos horizontes de maior igualdade, respeito a diversidade mas, principalmente de maior justiça, propomos um novo modelo de sociedade.
Por que tudo que está patente em nosso sistema sócio-político-econômico é resultante da ação humana pautada sobre interesses de pessoas. Sejam estas vencedores de eleições ou de guerras, dominadores, ditadores, monarcas, presidentes, príncipes, chefes religiosos ou qualquer outro. Estas pessoas buscam a manutenção deste poder ou dos benefícios deste. E é um poder ideologizado e simbólico pois não se apoia numa força concreta, mas numa representação aceita por um grupo de pessoas que molda a sociedade segundo conveniências circunstanciais. E de acordo com seu interesse, o discurso vai se moldando. Como exemplo basta que assistam as argumentações enquanto o Sr. Luis Inácio Lula da Silva era candidato de oposição à Presidência da República nas suas primeiras tentativas e que acabou em derrota eleitoral. Quando trocou o discurso que o fez receber a alcunha de “Lulinha Paz e Amor” acabou apoiado e eleito. Quem não vive como pensa acaba pensando como vive. Assim o modelo social foi se transformando no que vivemos hoje.
O fato é que naturalmente chegamos a uma conclusão óbvia e tácita. O modelo social que vivemos é injusto e desumano. E muitas leis, que somos impelidos a cumprir pelo respeito ao Estado “democrático e de direito”, que não é direito nem verdadeiramente democrático, são injustas e desumanas, ferindo peremptoriamente o que reza a declaração Universal dos Direitos Humanos.
Então há que se encontrar uma solução pois, do contrário, a vida humana perde sentido. Quem vive bem quer se manter nessa situação mesmo que seja a custa da miséria de outros ou vive como se a responsabilidade da indigência de outros não fosse influenciada pelo seu comportamento. Um modelo sistêmico simples pode mostrar como funciona a nossa sociedade atual, mas não é necessário, visto que os resultados da miséria humana e das injustiças afrontam nossa humanidade todos os dias pela imprensa livre, pelo nosso olhar ou no compartilhamento de experiências com outros seres humanos.
Este é um novo jeito de olhar a sociedade. Temos que aprender a avaliar o que acontece comparando a intenção com os resultados. Se o propósito intencional de um sistema (conjunto de processos e atividades inter-relacionadas e interdependentes que transformam insumos/inputs em produtos ou serviços/outputs com base em princípios) não é alcançado, então o sistema está mal construído e deve ser mudado. Simples assim. Por isso não podemos aceitar a estabilidade no emprego a não ser que esta seja intimamente ligada ao resultado alcançado coerentemente com o propósito explícito. Propósitos implícitos deveriam ser coerentes com os explícitos, aliás deveriam ser os mesmos. Quando os implícitos diferem dos explícitos, temos um estelionato. Quando os resultados factuais diferem dos propósitos explícitos temos incompetência e a certeza de que o sistema sob análise é incapaz de produzir o resultado esperado e deve ser mudado.
Então perco nesse momento todo apoio de pessoas pertencentes ao quadro de servidores públicos do meu país. Alguns poderão dizer que “sou um perseguidor do funcionalismo público”, que “sou um não-liberal do mal”, que sou um “reacionário”, que sou alguma alcunha qualquer para reduzir a legitimidade de minhas palavras ou de minha pessoa. Se eu fosse um político atrás de votos jamais diria o que estou dizendo. Mas há que ser coerente com o fato em si.
Imagine, por exemplo, que criamos uma estrutura de servidores públicos estáveis para a execução de serviços de produção de carburadores, pois estas peças seriam estratégicas para a nação. Então em algum lugar do mundo inventa-se a injeção eletrônica. O que fazemos com a repartição dos carburadores e seus funcionários? É isso, importa é o princípio. Já estou escutando algum imbecil que precisa se opor a esta ideia motivado pelos seus próprios interesses dizendo que não existe funcionário público produtor de carburadores. É claro. Mas pense que possa ser qualquer produto ou serviço dispensável. Por exemplo para que precisamos de estruturas enormes de secretarias de educação para guardar registros inúteis? Para que precisaríamos de imensas estruturas fazendárias se todas as transações financeiras fossem eletrônicas? E para que uma “Casa da Moeda”? Para que um “Diário Oficial” impresso? Todas estas estruturas podem ser inúteis? Por que a sociedade deve deslocar impostos para a manutenção de estruturas inúteis?
É claro que deve haver emprego para todos e há. O que não deve haver é emprego que não se precisa comparecer, empregos de apenas bater ponto, empregos onde o cliente seja um incômodo, etc. Recentemente eu deixei meu carro num estacionamento pago. Quando retornei para pagá-lo, eu tinha apenas uma nota de R$ 100,00. O valor do estacionamento era R$ 8,00. O cidadão servidor publico (por que serve ao público) de serviço de estacionamento privado delicadamente disse para mim “P...(expressão sinônima à sêmen) meu! Tu ‘qué’ (forma reduzida e popular do verbo querer) me f... (expressão relacionada com coito sexual)”. Eu respondi que pedia desculpas pelo transtorno pois imaginava que a obrigação de ter troco era do estabelecimento e não minha e que minha intenção não era prejudicar o senhor profissional mas pagar pelo serviço realizado. Ele, em dois minutos, conseguiu o troco sem sair do estabelecimento.
Eu percebi que cada um olha vida pela sua própria janela na premissa que estamos para ser servidos pelos outros, independentemente do que fazemos ou prometemos fazer. Mas, via de regra, temos imensas dificuldades empáticas de perceber que há um ser humano do outro lado e que deveríamos fazer de tudo para melhorar a vida do outro.
É comum ler numa escola, posto de saúde ou repartição pública uma placa como esta:
Eu me pergunto por que desacatar um funcionário publico dá pena de detenção de 6 meses a 2 anos ou multa? Afinal se são todos competentes e entregam seus serviços no prazo necessário, no estado da arte tecnológico, com precisão, eficiência, eficácia, educação, polimento, gentileza e alegria, por que haveríamos de desacatá-los? E por que uma lei específica para funcionário público? Isto não deveria valer para qualquer pessoa? Aliás leis não deveriam valer para todos os cidadãos? Aliás somente funcionários públicos podem ser desacatados, portanto isto ocorre só com funcionários públicos? E não há um único parlamentar ou jurista para impugnar uma lei inconstitucional, segregadora e injusta como essa relatada na foto? Para que não passe em branco, qual é a lei que se refere a pena por desacato de um funcionário público a uma outra pessoa? Não deveria ser a mesma?
Passadas as reflexões que já fizemos, reafirmamos que é possível realizar o utópico. Porém esta afirmação carrega em si responsabilidades que devem ser aceitas pelo bom senso. E não há um "dono" do bom senso. Apenas construímos critérios para comparar a intenção explícita com a realidade. Por vezes duvidamos das intenções implícitas com todo o direito do livre pensar, visto que em muitos casos continuamos por mais de décadas com práticas que efetivamente não produzem o resultado justo esperado, como a greve. A greve é um direito, ponto. Porém em toda a minha vida não conheci uma única greve que tenha produzido o resultado de alcançar justiça salarial para toda uma categoria. Não conheci uma única greve que tenha alcançado todos os objetivos da pauta de reivindicações. Mas conheci várias greves que produziram notoriedade à lideres sindicais, e desta notoriedade, tais líderes obtiveram sucesso em campanhas eleitorais para ocuparem cargos legislativos e executivos em todos os níveis. É só um exemplo, mas a aplicação da ferramenta de greve continua se repetindo, principalmente no serviço público. O que inferimos é que o explícito acaba, de fato, sendo muito diferente das intenções implícitas, mas verdadeiras.
Partimos também do pressuposto de que tudo que precisamos para sermos felizes já foi criado, inventado, construído, projetado ou, de alguma forma tornado real. Evidente que tudo ainda pode ser melhorado e inovações aparecem a todo moomento. Assim, para reconstruir a sociedade, devemos fazer o redesenho dos processos, mudando o sistema. E como os processos devem operar sob condições controladas com base em princípios e fundamentos, encontramos na Declaração Universal dos Direitos Humanos a estrutura ideal para sociedade do bom senso e da felicidade.
Porém no deparamos com a contrapartida da necessidade de cumprir deveres para auferir direitos. Ou alguém gosta de pagar adiantado por um serviço não executado? Então buscamos sempre a percepção do que é necessário ao nosso comportamento para que sejamos merecedores do quinhão humano.
A liberdade é um preceito justo, porém ninguém é totalmente livre. No limite temos a liberdade interna de pensamento, de expressarmos ou não este pensamento e de fazer escolhas para nossas atitudes. Porém são as atitudes que revelam a verdade do que escolhemos, portanto o resultado dos nossos critérios internos. Acredito que seremos mais iguais e mais livres quando temos a mesma oportunidade de expressarmos nossos pensamentos e realizarmos o que nos faz feliz.
De modo enfático e tácito afirmamos que o pensamento nada muda. `
Acho graça de poderosos políticos e religiosos que não permitem acesso a determinados livros, limitam ação da imprensa ou tem atitudes de censura implícita ou explícita sobre pensamentos livres expressos em letras e formas artísticas. Não precisamos temer pensamentos. Por exemplo, penso neste momento que todas as pessoas são boas. Isto eliminou as cadeias pelo mundo afora? Penso que todas as pessoas têm dinheiro no bolso. Isto acabou com a indigência e mendicância? Penso que todas as pessoas têm saúde. Isso fechou hospitais? Agora se pensamos que a forma mais econômica e ecológica de sepultamento humano é a cremação, isto acaba com todos os cemitérios? Definitivamente não. Por que teríamos medo de pensamentos? Mas a história e a realidade em muitos países demonstram que ainda estamos longe de uma liberdade plena de expressão. Há muitos líderes de países e religiosos que são covardes frente à liberdade de expressão e opinião, reagindo violenta e desumanamente contra pessoas, imprensa e entidades. São verdadeiros covardes dignos de repúdio e pena ao mesmo tempo. Acho que nojo é melhor.
No entanto o pensamento constrói nossos princípios e fundamentos e moldam nossas atitudes. E são estas que de fato mantém ou mudam a realidade.
Simples assim mas pleno de bom senso.