quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Bom Senso

Não há dúvida de que precisamos um novo olhar sobre a ordem de nossa sociedade baseada na possibilidade de exercermos plenamente nossos Direitos Humanos. É neste ponto que o bom senso se apoia.
Entendo que muitos vão ler este manifesto de forma emocional, supondo que tenho alguma animosidade a priori com algum tipo pessoa. É evidente que não.
Apenas nos propomos a questionar o distanciamento que vivemos de uma sociedade verdadeiramente humana, compreendendo-a, questionando-a e, a partir de novos horizontes de maior igualdade, respeito a diversidade mas, principalmente de maior justiça, propomos um novo modelo de sociedade.
Por que tudo que está patente em nosso sistema sócio-político-econômico é resultante da ação humana pautada sobre interesses de pessoas. Sejam estas vencedores de eleições ou de guerras, dominadores, ditadores, monarcas, presidentes, príncipes, chefes religiosos ou qualquer outro. Estas pessoas buscam a manutenção deste poder ou dos benefícios deste. E é um poder ideologizado e simbólico pois não se apoia numa força concreta, mas numa representação aceita por um grupo de pessoas que molda a sociedade segundo conveniências circunstanciais. E de acordo com seu interesse, o discurso vai se moldando. Como exemplo basta que assistam as argumentações enquanto o Sr. Luis Inácio Lula da Silva era candidato de oposição à Presidência da República nas suas primeiras tentativas e que acabou em derrota eleitoral. Quando trocou o discurso que o fez receber a alcunha de “Lulinha Paz e Amor” acabou apoiado e eleito. Quem não vive como pensa acaba pensando como vive. Assim o modelo social foi se transformando no que vivemos hoje.
O fato é que naturalmente chegamos a uma conclusão óbvia e tácita. O modelo social que vivemos é injusto e desumano. E muitas leis, que somos impelidos a cumprir pelo respeito ao Estado “democrático e de direito”, que não é direito nem verdadeiramente democrático, são injustas e desumanas, ferindo peremptoriamente o que reza a declaração Universal dos Direitos Humanos.
Então há que se encontrar uma solução pois, do contrário, a vida humana perde sentido. Quem vive bem quer se manter nessa situação mesmo que seja a custa da miséria de outros ou vive como se a responsabilidade da indigência de outros não fosse influenciada pelo seu comportamento. Um modelo sistêmico simples pode mostrar como funciona a nossa sociedade atual, mas não é necessário, visto que os resultados da miséria humana e das injustiças afrontam nossa humanidade todos os dias pela imprensa livre, pelo nosso olhar ou no compartilhamento de experiências com outros seres humanos.
Este é um novo jeito de olhar a sociedade. Temos que aprender a avaliar o que acontece comparando a intenção com os resultados. Se o propósito intencional de um sistema (conjunto de processos e atividades inter-relacionadas e interdependentes que transformam insumos/inputs em produtos ou serviços/outputs com base em princípios) não é alcançado, então o sistema está mal construído e deve ser mudado. Simples assim. Por isso não podemos aceitar a estabilidade no emprego a não ser que esta seja intimamente ligada ao resultado alcançado coerentemente com o propósito explícito. Propósitos implícitos deveriam ser coerentes com os explícitos, aliás deveriam ser os mesmos. Quando os implícitos diferem dos explícitos, temos um estelionato. Quando os resultados factuais diferem dos propósitos explícitos temos incompetência e a certeza de que o sistema sob análise é incapaz de produzir o resultado esperado e deve ser mudado.
Então perco nesse momento todo apoio de pessoas pertencentes ao quadro de servidores públicos do meu país. Alguns poderão dizer que “sou um perseguidor do funcionalismo público”, que “sou um não-liberal do mal”, que sou um “reacionário”, que sou alguma alcunha qualquer para reduzir a legitimidade de minhas palavras ou de minha pessoa. Se eu fosse um político atrás de votos jamais diria o que estou dizendo. Mas há que ser coerente com o fato em si.
Imagine, por exemplo, que criamos uma estrutura de servidores públicos estáveis para a execução de serviços de produção de carburadores, pois estas peças seriam estratégicas para a nação. Então em algum lugar do mundo inventa-se a injeção eletrônica. O que fazemos com a repartição dos carburadores e seus funcionários? É isso, importa é o princípio. Já estou escutando algum imbecil que precisa se opor a esta ideia motivado pelos seus próprios interesses dizendo que não existe funcionário público produtor de carburadores. É claro. Mas pense que possa ser qualquer produto ou serviço dispensável. Por exemplo para que precisamos de estruturas enormes de secretarias de educação para guardar registros inúteis? Para que precisaríamos de imensas estruturas fazendárias se todas as transações financeiras fossem eletrônicas? E para que uma “Casa da Moeda”? Para que um “Diário Oficial” impresso? Todas estas estruturas podem ser inúteis? Por que a sociedade deve deslocar impostos para a manutenção de estruturas inúteis?
É claro que deve haver emprego para todos e há. O que não deve haver é emprego que não se precisa comparecer, empregos de apenas bater ponto, empregos onde o cliente seja um incômodo, etc. Recentemente eu deixei meu carro num estacionamento pago. Quando retornei para pagá-lo, eu tinha apenas uma nota de R$ 100,00. O valor do estacionamento era R$ 8,00. O cidadão servidor publico (por que serve ao público) de serviço de estacionamento privado delicadamente disse para mim “P...(expressão sinônima à sêmen) meu! Tu ‘qué’ (forma reduzida e popular do verbo querer) me f... (expressão relacionada com coito sexual)”. Eu respondi que pedia desculpas pelo transtorno pois imaginava que a obrigação de ter troco era do estabelecimento e não minha e que minha intenção não era prejudicar o senhor profissional mas pagar pelo serviço realizado. Ele, em dois minutos, conseguiu o troco sem sair do estabelecimento.
Eu percebi que cada um olha vida pela sua própria janela na premissa que estamos para ser servidos pelos outros, independentemente do que fazemos ou prometemos fazer. Mas, via de regra, temos imensas dificuldades empáticas de perceber que há um ser humano do outro lado e que deveríamos fazer de tudo para melhorar a vida do outro.
É comum ler numa escola, posto de saúde ou repartição pública uma placa como esta:
Eu me pergunto por que desacatar um funcionário publico dá pena de detenção de 6 meses a 2 anos ou multa? Afinal se são todos competentes e entregam seus serviços no prazo necessário, no estado da arte tecnológico, com precisão, eficiência, eficácia, educação, polimento, gentileza e alegria, por que haveríamos de desacatá-los? E por que uma lei específica para funcionário público? Isto não deveria valer para qualquer pessoa? Aliás leis não deveriam valer para todos os cidadãos? Aliás somente funcionários públicos podem ser desacatados, portanto isto ocorre só com funcionários públicos? E não há um único parlamentar ou jurista para impugnar uma lei inconstitucional, segregadora e injusta como essa relatada na foto? Para que não passe em branco, qual é a lei que se refere a pena por desacato de um funcionário público a uma outra pessoa? Não deveria ser a mesma?
Passadas as reflexões que já fizemos, reafirmamos que é possível realizar o utópico. Porém esta afirmação carrega em si responsabilidades que devem ser aceitas pelo bom senso. E não há um "dono" do bom senso. Apenas construímos critérios para comparar a intenção explícita com a realidade. Por vezes duvidamos das intenções implícitas com todo o direito do livre pensar, visto que em muitos casos continuamos por mais de décadas com práticas que efetivamente não produzem o resultado justo esperado, como a greve. A greve é um direito, ponto. Porém em toda a minha vida não conheci uma única greve que tenha produzido o resultado de alcançar justiça salarial para toda uma categoria. Não conheci uma única greve que tenha alcançado todos os objetivos da pauta de reivindicações. Mas conheci várias greves que produziram notoriedade à lideres sindicais, e desta notoriedade, tais líderes obtiveram sucesso em campanhas eleitorais para ocuparem cargos legislativos e executivos em todos os níveis. É só um exemplo, mas a aplicação da ferramenta de greve continua se repetindo, principalmente no serviço público. O que inferimos é que o explícito acaba, de fato, sendo muito diferente das intenções implícitas, mas verdadeiras.
Partimos também do pressuposto de que tudo que precisamos para sermos felizes já foi criado, inventado, construído, projetado ou, de alguma forma tornado real. Evidente que tudo ainda pode ser melhorado e inovações aparecem a todo moomento. Assim, para reconstruir a sociedade, devemos fazer o redesenho dos processos, mudando o sistema. E como os processos devem operar sob condições controladas com base em princípios e fundamentos, encontramos na Declaração Universal dos Direitos Humanos a estrutura ideal para sociedade do bom senso e da felicidade.
Porém no deparamos com a contrapartida da necessidade de cumprir deveres para auferir direitos. Ou alguém gosta de pagar adiantado por um serviço não executado? Então buscamos sempre a percepção do que é necessário ao nosso comportamento para que sejamos merecedores do quinhão humano.
A liberdade é um preceito justo, porém ninguém é totalmente livre. No limite temos a liberdade interna de pensamento, de expressarmos ou não este pensamento e de fazer escolhas para nossas atitudes. Porém são as atitudes que revelam a verdade do que escolhemos, portanto o resultado dos nossos critérios internos. Acredito que seremos mais iguais e mais livres quando temos a mesma oportunidade de expressarmos nossos pensamentos e realizarmos o que nos faz feliz.
De modo enfático e tácito afirmamos que o pensamento nada muda. `
Acho graça de poderosos políticos e religiosos que não permitem acesso a determinados livros, limitam ação da imprensa ou tem atitudes de censura implícita ou explícita sobre pensamentos livres expressos em letras e formas artísticas. Não precisamos temer pensamentos. Por exemplo, penso neste momento que todas as pessoas são boas. Isto eliminou as cadeias pelo mundo afora? Penso que todas as pessoas têm dinheiro no bolso. Isto acabou com a indigência e mendicância? Penso que todas as pessoas têm saúde. Isso fechou hospitais? Agora se pensamos que a forma mais econômica e ecológica de sepultamento humano é a cremação, isto acaba com todos os cemitérios? Definitivamente não. Por que teríamos medo de pensamentos? Mas a história e a realidade em muitos países demonstram que ainda estamos longe de uma liberdade plena de expressão. Há muitos líderes de países e religiosos que são covardes frente à liberdade de expressão e opinião, reagindo violenta e desumanamente contra pessoas, imprensa e entidades. São verdadeiros covardes dignos de repúdio e pena ao mesmo tempo. Acho que nojo é melhor.
No entanto o pensamento constrói nossos princípios e fundamentos e moldam nossas atitudes. E são estas que de fato mantém ou mudam a realidade.
Simples assim mas pleno de bom senso.

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