quarta-feira, 6 de julho de 2011

Princípio 4 - O Setor Privado e a Geração de Valor

Quem lê jornais, revistas ou assiste noticiário em TV pode perceber o peso de responsabilidade que damos à política e aos políticos, ou seja, ao Setor Público. Eu tive a oportunidade de conviver com servidores públicos, em autarquias, empresas públicas e secretarias de Estado. É um tal de Doutor pra cá e Doutor prá lá um tanto quanto tenso. Algumas vezes nos deparamos com alguns indicados políticos com sérias deficiências com a língua portuguesa e na compreensão clara de conceitos administrativos como "processos" e "cliente". Os funcionários de carreira simplesmente suportam tais indicados com muito respeito: é "doutor pra cá" e "doutor prá lá". O termo "Doutor" é frequentemente utilizado em função da relevância do cargo e raramente pelo fato da pessoa em questão ter concluído seu pós-graduação em nível de doutorado. Se não é esquizofrênico, no mínimo é hipócrita.
Mas os "doutores" estão espalhados em nossa política e o povo confere certa legitimidade a estes seres, que dotados de poder, usam e abusam deste para auferir benefícios que o cidadão comum jamais teria como angariar. O simbólico latente passa a ser diabólico patente. Então vinculamos o poder ao setor público. O setor público é o Estado. Logo, o que é demandado do setor público passa a ser uma ordem quase absolutista e tirana, a ser obedecida pela plebe, pelos "não doutores", do setor privado mesmo que estes tenham concluído seu doutorado.
Não há culpa nem culpados. Não é ruim nem bom. É só um fato. Supervalorizamos as pessoas do setor público como se fossem seres diferentes de nós. Seres mitológicos. Nossa visão maniqueísta pode posicioná-los no lado do bem ou no lado do mal. Mas ainda mitológicos. Não deixa de ser uma ideologia de castas. Colocamos os servidores públicos (eleitos ou não) numa casta intocável e diferenciada, como se fossem seres diferenciados.
O que importa é a consequência comportamental desta visão supervalorizada. Por vezes menosprezamos a nós mesmos quando estamos no setor privado e precisamos do setor público. Como pertencemos a casta inferior temos que entender e aceitar que o processo é lento e burocrático para abrir uma empresa, que temos que enfrentar filas enormes para atendimentos em repartições, que podemos morrer a espera de atendimento em centros de saúde ou hospitais, que a escola pública não tem condições de infra-estrutura básica para assegurar uma instrução adequada aos nossos filhos, que as estradas tem problemas a ponto de danificar os nossos veículos, que temos que pagar duplamente pedágio e impostos para manutenção de estradas, que temos que financiar a propaganda política, que temos que financiar através de bancos de fomento públicos a fusão de uma mega empresa do varejo brasileiro com uma mega empresa do varejo francês, que temos que aceitar licitações com informações restritas para burlar legalmente o processo legalmente estabelecidos por eles mesmos (e falho), que temos, enfim, que aceitar o que os "doutores" fazem, pois estes possuem a chancela democrática, contra a qual niguém há de questionar.
O fato é que o setor privado não tem mecanismos adequados para exercer sua verdadeira função. Somos acionistas do Estado. Não somos patrões dos funcionários públicos. Somos os donos e investidores do serviço público. Por que? Por que o setor público não gera valor, somente gasta. No Brasil é pior, gasta muito e investe pouco. Como afirmo isso? Simples. O metrô de Paris foi inaugurado em 1900, o de Nova Iorque em 1904 e o de Buenos Aires (Argentina) foi inaugurado em 1913. O de São Paulo foi inaugurado em 1974, 61 anos depois do argentino. É pouco tempo pra imaginar uma solução? Se a cada 4 anos temos um governante. Passamos, no mínimo (sem querer ser preciso) por uns quinze governantes em nível estadual e federal (fossem 2 já seria muito). Ou seja, uma solução para o transporte público já existia com experiência factual na América Latina em 1913. O investimento em linhas de metrô em Brasilia, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Goiânia, Fortaleza, Florianópolis e outras capitais brasileiras deveria ter ocorrido em 1915 no mínimo, se aqui houvesse um único estadista. Simples assim. Cadê o investimento? Este é só um exemplo. E o trem de alta velocidade entre São Paulo e Rio de Janeiro, entre Porto Alegre e Florianópolis e entre as principais capitais do nordeste para favorecer o turismo? Onde está? A China celebrou recentemente a inauguração de uma ponte sobre o mar de 35km de extensão, construída em 4 anos. Há dois anos estamos tentando consertar e não está pronto ainda,  o Viaduto da Conceição em Porto Alegre que deve ter uns 500 a 800 m. Pra não falar da RS118 - que não é uma ponte - é uma rodovia que liga Sapucaia do Sul a Viamão na região metropolitana de Porto Alegre e está literalmente no chão. E a durabilidade de nossas estradas? Licita-se uma obra viária sem garantia de manutenção. Na primeira chuva a buraqueira vêm de novo. Fato: no Brasil gasta-se muito, investe-se nada. Se pensa na próxima eleição quando deveríam governar para 50 a 100 anos daqui pra frente. Neste momento imagino que a monarquia seria mais interessante que o presidencialismo, pois, pelo menos, o chefe de Estado nos próximos 50 anos poderá ser o mesmo ou filho deste. Mas isto é outro assunto.
Ou seja, historicamente no Brasil, os "doutores" do poder público sistematicamente jogam fora o dinheiro que não geram. Só existe geração de valor no setor privado. E existe muito desperdício deste valor no serviço público. Simples assim, triste assim, mas fato. Para piorar, ainda os valorizamos como detentores do poder do Estado e legalizamos isso no sistema presidencialista. Pronto, está feita a injustiça.
Eu fico imaginando o Doutor Jorge Gerdau, o Doutor Antonio Ermírio de Moraes ou o Doutor Flavio Guimarães (neste caso são comumente chamados de "doutores" por algumas pessoas,  portanto o processo de mitologização ocorre no setor privado também). Fico imaginando que resolvam investir numa fábrica. Então eles fazem uma eleição direta com todos os funcionários para decidir quem vai administrar a fábrica. Um torneiro mecânico semi-analfabeto é eleito CEO, com o direito de ficar quatro a oito anos no cargo. Esse torneiro mecânico coloca vários diretores de sua confiança. E percebem que o fluxo financeiro do seu investimento passa dos limites da normalidade, observando que parentes e amigos do CEO começam a ter sucesso empresarial fora do comum, assim como parentes e amigos dos diretores também. E a empresa é mantida no mínimo de investimento em segurança e manutenção, aumentando a produtividade e o número de empregados, criando um ambiente de fartura potencial no imaginário daqueles que o elegeram. Inclusive fez um programa de incentivo ao comprometimento do pessoal dando, digamos, uma cesta básica adicional. Diferentemente do CEO anterior, agora a cesta básica é em dinheiro, portanto se o funcionário quiser gastar em cachaça também pode. Assim, garante a segunda eleição. E o CEO é uma pessoa tão amada que faz ajuda internacional. Perdoou dívidas de clientes bolivianos, aumentou o custo de energia vinda do Paraguai, deixou que uma filial Venezuelana fosse tomada pelo pessoal de lá e ainda permitiu abrigo a um assassino italiano na empresa, prejudicando imensamente os negócios da empresa com a Itália. E os acionistas? O Doutor Jorge Gerdau, o Doutor Antonio Ermírio de Moraes ou o Doutor Flavio Guimarães continuam assitindo a tudo sem fazer nada ou vão mudar o comando? A resposta a essa pergunta é a diferença entre o Setor Público e o Setor Privado.
Você acha que a democracia participativa do Brasil permite que o poder emane do povo? A nossa constituição é clara e estabelece que "todo o poder emana do povo", mas como fazemos uso deste poder? Votando de quatro em quatro anos e não podendo fazer nada durante este período?
Na nossa visão, o poder emana de quem paga a conta. O servidor público (eleito ou não) é povo também. Mas não paga a conta. Na nossa visão o poder emana do Setor Privado. Este setor quer pessoas competentes para gerir o Estado, por isso pagamos o salário dessa gente. Simples assim. E todo o setor público deve trabalhar com afinco, dedicação, respeito, educação, conhecimento, habilidade e comportamento adequado profícuos para que o setor privado funcione muito bem. Se o setor privado não funcionar bem, a responsabilidade é, sem dúvida, do setor público.
É difícil ententer e por vezes aceitar. Mas um novo critério deveria ser estabelecido. Numa democracia, o poder emana do povo. Na verdadeira democracia de bom senso, o poder emana do povo que paga a conta do Setor Público, ou seja, do Setor Privado. Mas os funcionários públicos pagam imposto de renda tambem! É claro que é uma estupidez processual funcionário público pagar imposto. O governo paga 100 para um funcionário. Depois o funcionário devolve 40 para o Governo. Para que? Por que não paga só 60 e encerra o assunto? Por que tem que justificar que quanto mais complicado melhor. Verdadeiro absurdo.
Enfim, os princípios que estamos convencidos são:
  • Tem direito a voto qualquer ser humano que atue no setor privado.
  • O voto precisa ser feito com maior frequência e o governo pode ser destituído a cada seis meses ou num período não superior a um ano, tempo suficiente para mostrar competência, princípios, respeito à lei, à moralidade e à humanidade,  assegurando o valor e o poder para o povo que paga a conta.
Simples assim, mas pleno de bom senso.

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